1° de maio e as tarefas dos trabalhadores

O espírito do primeiro de maio é o espírito da insurreição da classe trabalhadora. A data nasce da luta de trabalhadores em Chicago, nos EUA em 1886, que lutavam pela redução da sua carga horária, tendo como foco as 8h e responderam à violência policial, levando a mortes em ambos os lados. O Estado capitalista precisava responsabilizar alguém e escolheu alguns lideres anarquistas de Chicago. Alguns foram enforcados, levando a protestos em todas as partes do mundo.

Desde então, o primeiro de maio passou a ser um dia de luto, em memória aos mártires de Chicago, mas também de luta de nossa classe que utiliza a data para reivindicar melhores condições de vida, mas também para organizar e propagandear estratégias de combate ao capitalismo.

Internacionalismo e solidariedade como respostas às guerras e as violências

A ocupação colonial da Palestina por Israel é um resíduo do atraso colonialista imposto pelos países do centro econômico, em especial EUA e Inglaterra, mas não só. Assim, a luta pela libertação da Palestina deve, ou deveria estar a frente das mobilizações de 1° de maio. Mas não é isso o que está acontecendo.

No Brasil os atos de 1° de maio convocados pelas Centrais Sindicais Oficiais não apontam a libertação do povo Palestino como bandeira, nem como palavra de ordem. A falta de solidariedade e internacionalismo esvaziam politicamente esses atos de qualquer política classista, expondo a integração sistêmica destas centrais ao Estado burguês.

Entendemos que uma das tarefas das manifestações de 1° de maio seja a defesa da libertação do povo Palestino e da responsabilização de Israel, em especial de Netanyahu, pelo genocídio praticado no território.

As grandes manifestações de pressão popular realizadas em diversas universidades nos EUA. Tais manifestações noutros momentos, colocaram em xeque a guerra do Vietnã e o apoio dos EUA ao regime do Apartheid na África do Sul.

O espirito insurreto da classe trabalhadora brasileira mantém a chama do 1° de maio viva

Chovem greves no funcionalismo público, Institutos Federais de Educação, Universidades federais, redes públicas de ensino além de diversas greves de resistência, em especial dos entregadores por aplicativos, demonstrando este ser o setor mais dinâmico do capitalismo contemporâneo.

Mas além das greves, a classe trabalhadora vem mostrando disposição de luta sem conciliação. Expressões disso são as lutas de trabalhadores da educação do Ceará, que enfrentam o governo Elmano/PT e o sindicato oficial APEOC/CTB. Em uma assembleia realizada em março, em que esperavam para votar pela deflagração de greve, a direção sindical não colocou para a votação, levando a massa a revolta, culminando numa chuva de cadeiras contra o presidente da entidade pelega.

Em São Paulo, algo similar aconteceu. Apesar da forte indignação da categoria com o governo do reacionário Tarcisio/PR e a disposição para a luta, a direção da APEOESP/PT não colocou a proposta para votação, levando também a uma grande indignação na categoria.

Esse espirito insurreto é o espirito do primeiro de maio, data internacional de luta da classe trabalhadora. Mas é preciso sair da pura indignação para a organização autônoma

Mas além, o 1° de maio marca a solidariedade internacional entre trabalhadores, essa classe que tudo produz e que fica com tão pouco. Portanto, é tarefa das diversas correntes socialistas solidarizar-se com as lutas contra o colonialismo e o imperialismo, como a luta do povo palestino contra o exercito de ocupação israelense, contra as expansões e guerras imperialistas, como a tentativa de expansão da OTAN para a Ucrânia e a guerra da Rússia contra esta nação, da Turquia contra o povo curdo. Mas também, observar e aprender com as expressões do que parece ser um novo ciclo anticolonial na África.

A tarefa que apontamos na Plataforma Internacional do Anarquismo Revolucionário, de construir uma Tendência Internacionalista Classista permanece. Enquanto a classe trabalhadora internacional não se organizar numa tendência desse tipo, sem ligação com Estados, permaneceremos realizando o sindicalismo de resistência, sobrevivendo a barbárie capitalista, mas é preciso avançar, sair da defensiva estratégica imposta a nós pelo capitalismo, reformismo social-democrata uma de suas principais armas, o realismo político. É preciso dar o salto qualitativo, entrar na etapa de ofensiva estratégica contra o capitalismo e seus gestores. Demorará, mas permaneceremos organizados e em luta, pelo socialismo econômico e o federalismo político!

PELA CONSTRUÇÃO DA TENDÊNCIA INTERNACIONALISTA CLASSISTA!

PELA SOLIDARIEDADE ENTRE OS POVOS EM LUTA!

VIVA O 1° DE MAIO CLASSISTA E INTERNACIONALISTA!

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60 anos do golpe de 64 e a conciliação PTista!

Neste primeiro de abril lembramos que há 60 anos os militares, apoiados pelas elites brasileiras, setores reacionários e pelo imperialismo ianque, conseguiram dar um golpe de Estado e estabeleceram uma sanguinária e violenta ditadura militar.

Sabemos o papel que os militares tiveram na República brasileira. Apesar de todo um movimento popular republicano, são os militares que derrubam dom Pedro II e dão inicio a república brasileira em 1889 com o claro objetivo de evitar que o processo republicano contestasse os privilégios de classe da classe dominante agrária da época.

Porém, houveram vários momentos em que setores militares se insurgiram contra seus superiores. A revolta da Chibata, o tenentismo, a Coluna Prestes, são exemplos de que a disciplina militar encontrava resistência nas camadas baixas das forças armadas da época.

Porém, o golpe de 64 realinhou a disciplina interna à direita. Isso significa que após o golpe de 64, militares democratas e socialistas foram perseguidos dentro das Forças armadas. Mais de 6.500 militares foram perseguidos e expulsos da Marinha, Exército e Aeronáutica. Se perseguiram seus “colegas de farda”, o que fizeram com a sociedade foi a mais pura barbárie.

Movimentos como a Liga Camponesa colocados na ilegalidade e suas lideranças perseguidas, centenas de pessoas presas sem processos, cerca de 8.350 indígenas foram assassinados com as ações dos militares, torturas nos galpões, batalhões, nos porões da ditadura. Essas perseguições, em especial no campo, permitiram com que a estrutura agrária, de concentração de terras nas mãos de poucos, permanecesse. Assim, essa estrutura, a ausência de reforma agrária, é um legado da ditadura militar.

Apesar das fortes e heroicas resistências armadas, em vários grupos armados inspirados na experiência cubana, os militares permaneciam ainda mais fortes e desbaratinaram com brutalidade todas as tentativas de resistência, onde grande parte da militância vinha do movimento estudantil, da UNE da época que lutou bravamente pra derrubar a ditadura militar.

Redemocratização e a conciliação de Lula/PT

A redemocratização brasileira foi novamente uma concessão dos militares. Portanto, diferente de outros processos de redemocratização na nossa América Latina, os militares não pagaram pelos seus crimes contra o povo brasileiro, pelo contrário. A lei da anistia permitiu que as forças armadas continuassem concedendo promoções a esses facínoras.

O PT é um partido que nasce durante a ditadura e impulsiona movimentos contra esta. No entanto, após 3 governos deste partido no controle do Estado burguês, a punição aos torturadores da ditadura não avançou, a tutela dos militares permanece, permitindo apenas a “Comissão da Verdade” que conseguiu expor os crimes da ditadura, mas sem punição. Agora, Lula/PT proibiu o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, de realizar atos que relembrariam os “perseguidos pela ditadura”. Um duro golpe que dificulta o emparedamento das Forças armadas e a responsabilização dos agentes envolvidos nas perseguições e torturas.

A ação de Lula/PT é mais um sintoma de conciliação de classes que acomete seu partido e que aceita sem combater a tutela dos militares sobre o Estado brasileiro e a permissão destes para que o PT continue governando.

Punição já para todos os torturadores do regime!

Ditadura nunca mais!

Socialismo ou barbárie!

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8 de março: dia internacional da mulher trabalhadora!

No dia 08 de março, comemora-se o Dia internacional da Mulher Trabalhadora, para nós este é mais um Dia de Luta. Nesta data recuperamos a memória das lutas das mulheres trabalhadoras durante a Revolução Russa, quando ocuparam as ruas por “Pão e Paz”, aproveitamos, ainda, para resgatar a força de Dandara dos Palmares, nas lutas da mães negras das periferias e favelas que lutam contra a matança de seus filhos negros pelo Estado Colonial Brasileiro, resgatar a força das camponesas, indígenas e quilombolas e nos inspirarmos nas combatentes do EZLN, do povo Mapuche e em Rojava e saudamos a todas as mulheres trabalhadoras que vem construindo o sindicalismo revolucionário no Brasil.

Nós, mulheres temos nossa história marcada por muitas lutas que, muitas vezes, sequer são contadas, como os enfrentamentos cotidianos, quando assumimos as “linhas de frente” nos movimentos por moradia, ou nas resistências frente a morte de nossos filhos pela violência do Estado, na luta por autodeterminação dos corpos e por melhores condições de trabalho, que atenda as nossas demandas específicas e pela equiparação salarial.

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A ruptura do pacto social democrata pelos de baixo!

A eleição de Lula/PT e Elmano/PT no Ceará pareciam selar uma força onipotente no estado. A força que levou a vitória no primeiro turno quando nenhuma pesquisa levantava essa possibilidade, deu força para o PT e seu grupo político, levando-o a acelerar sua integração sistêmica.

Elmano de Freitas/PT foi advogado do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra/MST, portanto, alguém que vem do movimento social. Parte de seu corpo de secretários também vem de movimentos como Miguel Braz/Consulta Popular, Moisés Brás que vem da FETRAECE, Cacica Irê do povo Jenipapo-Kanindé entre outros. Supostamente seriam aliados dos movimentos sociais, mas são entraves entre a luta dos povos e os capitalistas.

Transição energética e o papel do Ceará

O Nordeste brasileiro, em especial o Ceará, é polo para a produção de hidrogênio verde no Complexo Termelétrico do Pecém. Estima-se que a demanda pela transição energética, acelerada pela segunda Guerra Fria, possa fazer o capitalismo “verde”, permitindo uma produção de mercadorias de modo “sustentável”, como se um sistema historicamente predador da força de trabalho das massas populares e dos ciclos biológicos da Natureza fosse passível de ter alguma sustentabilidade social ou ecológica.

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Elmano/PT executa despejo da ocupação Nestor Makhno

Em 06/12 a população rural da Ocupação Nestor Makhno (homenagem ao revolucionário anarquista ucraniano) foi desalojada pela policia militar do governo Elmano/PT. Elmano foi advogado do MST e tem no seu corpo de secretários, indígenas, dirigentes de sindicatos rurais e movimentos de sem terras. Nada disso impediu omissão do Estado na regularização fundiária na terra em disputa.

Massapê é uma cidade que fica a 248km de Fortaleza e onde se localizava a ocupação Nestor Makhno. Lá, desde 15 de abril de 2023, as famílias ocupantes, articuladas pela Organização Popular Terra Liberta – FOB criavam animais e produziam alimentos para sustento próprio, buscando dignidade. No entanto, em 15 de junho a ocupação recebe a ordem de despejo. Desde então acelera-se a busca por um acordo para a compra da terra pelo IDACE e em setembro, inicia-se a articulação para a compra de uma terra próxima ao local da Ocupação para as famílias da Nestor Makhno.

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Solidariedade ao Corajoso Povo da Palestina.

A ofensiva anticolonial do Hammas contra o Estado de Israel desencadeou uma série de eventos no Oriente Médio, podendo se estender para o norte da África e Ásia central. Observamos uma série de posições, desde a sempre defesa dos EUA e da União Europeia ao Estado de Israel, algumas posições distintas em países Europeus, como Espanha e Irlanda, e críticas dos executivos da América Latina a ação do Hammas e a resposta de Israel. Diversos grupos políticos da esquerda brasileira também se posicionaram, todos críticos ao Estado de Israel, defendendo o povo palestino, mas com posições vacilantes quanto ao Hammas e sua tática. O fato é que com sua ação o Hammas levou para dentro do Estado colonial essas operações, atingindo cerca de 300 a 500 militares no total de mortos pelo grupo, e mudando o cenário da resistência palestina, da Autoridade Nacional Palestina (ANP), do Estado de Israel e dos acordos de normalização com países árabes, como na suspensão do acordo com Arábia Saudita. Foi uma das maiores ações da resistência palestina sofrida por Israel, o que colocou o governo de coalização de extrema direita de Benjamin Netanyahu numa posição enfraquecida e novamente a pauta de dois Estados volta a agenda política, que é contrária a posição de Israel e dos colonos que hoje são uma principal base de apoio político da atual coalização no governo.

Sionismo e Ocupação Territorial da Palestina: O Colonialismo de Israel

Como também fruto da onda de nacionalismos que atinge a Europa, ainda em 1897 acontece o I Congresso Sionista, em Basiléia, na Suíça. Lá se estabelece as bases deste movimento nacionalista judeu que define a importância da criação de um Estado judeu na Palestina. Desde então, judeus sionistas lutam por reconhecimento internacional. Nas palavras de Max Nordau, delegado sionista, “O sionismo busca estabelecer um lar para o povo judeu garantido pelo direito público”, alterado depois para “pelo direito internacional” por Theodor Herzl.

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Impedir a marcha fúnebre: preparar a autodefesa para pôr fim ao genocídio do povo negro

“A paz tá morta, desfigurada no IML

A marcha fúnebre prossegue.”

Facção Central

O governo recorrerá à coerção incessante, à violência, ou seja, ao controle político, e a arma definitiva do controle político é o poder militar”.

Mikhail Bakunin   

A marcha fúnebre das últimas semanas

Nas últimas semanas tivemos três chacinas promovidas pela Polícia Militar (PM) em três estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Os três estados são comandados por forças políticas diferentes.

Na Bahia, governada pelo PT há 20 anos, e atualmente sob liderança de Jerônimo Rodrigues, ao menos 19 pessoas foram mortas durante ações e operações policiais realizadas no final de julho e início de agosto. Os assassinatos ocorreram nos municípios de Salvador, Itatim e Camaçari. A Bahia é hoje líder nacional em números absolutos de pessoas mortas pelas polícias. De acordo com dados do Fórum de Segurança Pública, foram 1.464 óbitos no ano passado. Quase todos os mortos eram pretos.

No Guarujá, litoral sul de São Paulo, foram 16 assassinatos pelo Polícia Militar do governo Tarcísio (PL). A ação é uma vingança policial à morte do soldado da Rota da PM baleado durante uma operação na Vila Zilda.

Na Vila Cruzeiro, localizada no Complexo da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, foram ao menos 10 pessoas assassinadas pela PM de Claudio Castro (PL). Nas últimas semanas tivemos ainda o assassinado do jovem negro de 13 anos, Thiago Menezes, na Cidade de Deus, Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro. No último domingo, Eloá Passos, de 5 anos, e Wendell Eduardo, de 17 anos, também foram assassinados em operação policial.

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[Cartilha] 10 anos do Levante Popular de Junho de 2013

Há exatos dez anos ocorre a maior manifestação realizada no Brasil. Mais de um milhão de pessoas participaram de manifestações simultâneas em 388 cidades em 22 estados.

Em comemoração ao maior levante popular dos últimos 100 anos, a União Popular Anarquista e a editora Terra Sem Amos publicam esse compilado de materiais escritos por anarquistas revolucionários que estiveram na articulação de pobres e excluidos, nas barricadas, no enfrentamento.

Esperamos que esse compilado de escritos possam ajudar na compreensão deste fenômeno social, combater as narrativas do reformismo degenerado e da direita conservadora sobre o levante, bem como auxiliar as novas gerações de revolucionárias e revolucionários a sair do “realismo político” imposto pela direita, pelos reformismos e que possamos ter novos horizontes de luta e de vida.

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10 anos do levante popular de junho de 2013.

Junho de 2013 está marcado na história recente do Brasil como o ano do maior levante popular dos últimos 100 anos. As maiores manifestações, em números absolutos, e em dimensão territorial ocorreram simultaneamente nos dias do mês de junho de 2013.

Antecedentes da revolta popular

As manifestações iniciaram por uma pauta concreta, o transporte público. Tradicionalmente, as máfias dos transportes públicos aumentam as tarifas no começo do ano. Naquele ano de 2013 ocorreram fortes manifestações contrárias aumento das tarifas em Porto Alegre-RS ainda em março. Goiânia-GO e Natal-RN em maio contra o aumento das passagens, com bastante violência policial em todas as cidades. Repetindo manifestações e enfrentamentos de anos anteriores, Salvador-BA com a Revolta do Buzu em 2003; Florianópolis-SC com a Revolta da Catraca em 2004, no Rio de Janeiro-RJ com uma Revolta contra o Fim do Passe Livre em 2007; em Natal-RN com a Revolta do Busão em 2012.

Mas em 2013 o contexto para grandes manifestações já estava formado para além das lutas contra o aumento das tarifas do transporte público. Haviam as “megaobras do PAC”, programa de aceleração do crescimento do governo Lula/PT que criava infraestrutura em regiões distantes dos grandes centros, como as hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, esta ultima a mais conhecida por ter sido construída em terras dos povos do Xingú. Esta ultima foi reconhecida como causa do Etnocídio de povos que mudaram suas relações em decorrência da construção dessa usina.

Além das megaobras em si, as relações de trabalho nestes canteiros de obras eram degradantes. Marmitas com comida estragada e colchões sujos eram oferecidos aos operários que frequentemente realizavam fortes manifestações contra as péssimas condições de trabalho. Nestas manifestações, constantemente tinham que atropelar o sindicato oficial, enfrentar a violência policial e da Força Nacional de Lula/PT e depois de Dilma/PT. Portanto, já havia um cenário de agudizamento da contradição Estado x Povos com as megaobras, sendo o Estado dirigido pelo Partido dos Trabalhadores-PT.

As cidades que sediaram Copa de 2014 passaram por fortes arranjos estruturais, obras nos estádios e na área de mobilidade urbana. A necessidade de retirar populações pobres das zonas em que os turistas passariam levou a uma série de remoções, em que as prefeituras e governos estaduais pudessem “higienizar” as regiões com turistas. Essas remoções levaram a uma série de lutas locais pelo direito a moradia que foram ganhando força. O Comitê Popular da Copa, articulação nacional que concentrava acadêmicos e militantes de partidos de esquerda e ativistas autônomos também interferiu nas lutas contra as remoções.

Por último, no ano de 2012 houveram 873 greves, o maior numero de greves desde 1997 segundo o DIEESE. Já em 2013 o mesmo DIEESE identificou 2.050 greves. O maior número de greves de toda a série histórica. O que demonstra que o levante popular de junho de 2013 foi também fruto de um processo em que as contradições sociais e politicas apontariam para movimentos espontâneos de nossa classe como forma de reação as contradições conjunturais e estruturais. Realizamos essa análise teórica desde 2003 quando da formação da UNIPA, e desde então trabalhamos nacionalmente no sentido da construção desses movimentos que pudessem fugir das amarras do Estado, das burocracias sindicais e partidárias. Assim, aliamos uma analise teórica a uma prática militante coerente.[1]

O Legado de 2013, entre as Narrativas PTistas de “guerra hibrida” e a realidade concreta.

Levantando esses dados, observamos que o cenário montado com a Copa do Mundo de 2014 era um cenário de perda de moradia para as comunidades atingidas, precarização das condições de trabalho para os operários das megaobras do PAC, perda das terras para as comunidades indígenas, ribeirinhas e tradicionais, aumento de custo de vida nas cidades com os constantes aumentos de passagens, além do aumento de custo de vida.

A repressão contra aqueles que lutam levou o governo Tarso Genro/PT do RS a invadir a sede da Federação Anarquista Gaúcha – FAG por duas vezes em junho e outubro de 2013, sequestrando livros e computadores. E em outubro, invadindo casas de militantes do PSOL e PSTU também sequestrando livros e computadores.

As narrativas do reformismo degenerado (PT/PCdoB) ganharam força após o golpe parlamentar de 2016 contra seu governo. A ascensão de Temer/MDB seguido de Bolsonaro/PL levaram ativistas e militantes próximos ao reformismo renovado (PSOL, PCB) a avaliarem como negativo o levante de junho de 2013, afirmando que foi o levante que nos levou ao governo Bolsonaro/PL. Nada mais pobre em teoria e prática.

Esse é o argumento ressentido do PTismo por terem perdido o controle das ruas em vários momentos e seu ápice em 2013. Também o ressentimento dos partidos da ordem burguesa que foram rechaçados por muitas vezes nas ruas ao se identificarem.

Ou seja, a reação autoritária de querer suprimir a participação dos partidos é a reação proporcional e inversa ao trabalho que tem feito estes partidos nos últimos anos de suprimir a ação das massas, de tutelar e reprimir essa ação (os partidos de direita, como PSDB, PMDB, e os reformistas também). Que esse sentimento se expresse primeiramente de forma autoritária, não é de se estranhar. Assim, os partidos reformistas estão colhendo o que plantaram: autoritarismo. Estão agora arcando com a reação legítima de que nem não quer aceitar a tutela reformista e as eternas decisões de cima para baixo, tão ao gosto das burocracias. O que gera isso não é o anarquismo, mas o autoritarismo de décadas, a burocratização e as traições das entidades e direções. (Colhendo o que se planta: autoritarismo, apartidarismo e anarquismo – 19 de junho de 2013)

Entendemos a reação autoritária das ruas contra as/os militantes de partidos da ordem, mas defendemos a liberdade de organização e de propaganda, nos contrapondo as posições autoritárias e apontando onde o combate as burocracias podem ocorrer

Onde a juventude deve combater as posições dos partidos reformistas e sua feição autoritária sem usar de armas autoritárias, ou seja, sem voltar autoritarismo contra autoritarismo? Nas assembleias de base, nos locais de trabalho e nas associações e manifestações. Não é pela supressão do direito de portar bandeiras que se combate o autoritarismo e a burocracia reformista. Mas é realizando a ação direta classista e combativa que se faz essa diferença. Lutando para manter o poder nas bases de trabalhadores e estudantes, com a revogabilidade dos mandatos e a direção coletiva. Lutando contra a burocracia nos congressos de trabalhadores e estudantes, combatendo a burocracia e o autoritarismo no cotidiano. (Colhendo o que se planta: autoritarismo, apartidarismo e anarquismo – 19 de junho de 2013)

Assim, a narrativa de que o levante de junho tenha ocorrido como fenômeno preparado de uma Guerra Hibrida contra o governo PT é uma narrativa que abstrai as contradições internas, abstrai a luta de classes, a concentração de riquezas, neste caso, na mão dos empresários do transporte público, o contexto de violência do Estado contra o povo como já listamos mais acima, ou seja, é uma teoria que recusa a luta de classes e o materialismo como ferramentas para compreender uma sociedade partindo apenas dos interesses geopolíticos.

As manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro e outros grandes centros, convocadas contra o aumento das passagens de ônibus pelo Movimento Passe Livre – MPL, logo foram se massificando devido a brutalidade da violência policial mas também pelo trabalho de década do MPL e a urgência da pauta, visto que o aumento das passagens significava aumento do custo de vida. Em especial o 13 de junho em São Paulo, que foi uma forte e grande manifestação contra o aumento das passagens, também convocada pelo MPL.

Logo, as manifestações que tinham uma pauta especifica, ganharam a sociedade. A mídia burguesa que estimulava a repressão contra as manifestações percebeu que a repressão não iria frear a fúria popular, passando assim a disputar as pautas, empurrando a pauta contra a corrupção, buscando diferenciar o “bom” e o “mau” manifestante. Algo comum em um movimento de massas, ter vários campos em disputa, sendo assim, era natural que a direita também tentasse disputar as ruas. O que não era esperado é que a esquerda, abandonasse as ruas.

Logo após a manifestação do dia 20 de junho que reuniu 100 mil pessoas, o MPL anuncia em 21 de junho de que não iria mais convocar novas manifestações. A razão apresentada foi de que “uma vez que se revogou o aumento, o objetivo inicial das manifestações foi cumprido. E não tem sentido a gente continuar chamando as manifestações contra o aumento”. Na prática o MPL abando    nava a mobilização popular entregando as ruas para a direita que aproveitou o vácuo político deixado.

Vitórias da mobilização popular

Em que pese o campo do PT/PCdoB se aliar a direita e afirmar que não fez bem lutar, dezenas de cidades reduziram o preço das passagens de ônibus ainda em 2013, fruto da mobilização popular, deixando o ensinamento que a luta de massas traz frutos imediatos.

Entre os meses de junho e julho de 2013, 104 cidades reduziram o preço da tarifa de ônibus[2].  Até 25 de março de 2023 somam 75 cidades com “tarifa zero” em que a população anda de ônibus sem pagar passagens. Destas, 62 implementaram o Tarifa Zero após o levante de junho de 2013. Sendo uma consequência prática das mobilizações populares.

A greve dos Garís do Rio de Janeiro entre abril de maio de 2014 foi uma greve com características insurgentes. Uma insurgência contra a prefeitura e contra a burocracia sindical. Uma greve que ganhou a sociedade que passou a apoiar e dar ainda mais visibilidade para a luta da categoria. Assim como a greve de professores do RJ no mesmo ano. A insurgência de 2013 reverberou nas escolas que foram ocupadas por todo o Brasil em 2016 contra a Reforma do Ensino Médio, sendo uma clara continuidade de métodos de 2013. Assim, o levante de junho também foi pedagógico para a classe trabalhadora.

Legado de 2013 para os revolucionários e povos do brasil.

Por isso o problema não é saber se o povo pode se sublevar, mas se é capaz de construir uma organização que lhe dê os meios de se chegar a um fim vitorioso – não por uma vitória fortuita, mas por um triunfo prolongado e derradeiro. (Bakunin)

O legado de junho de 2013 é duramente combatido pela direita que entende que a única ação política é realizada pelo Estado. Também por aqueles que querem controlar as mobilizações populares, por quem não aceita a perda da direção política em meio ao processo.

Mas o legado de junho também é um legado de aprendizado para as organizações revolucionárias. A revolta se dissipou, muito pela violência do Estado, perseguição judicial como o caso dos 23 do RJ, mas também pela ausência de organicidade entre aqueles milhares de manifestantes, ativistas que pudessem dar um salto a organização pulverizada, mídia ativistas, novas organizações de esquerda, coletivos de rua entre outros.

Para fazer a revolta se expandir no espaço e se sustentar ao longo do tempo, ao invés de se dissipar pela violência estatal e perseguição judicial, é preciso que a contestação social, que tanto animou os aguerridas protestos, seja levada ao cotidiano do povo. Essa é uma primeira tarefa. Para isso acontecer, é preciso dar um salto da mobilização de manifestantes na rua para a organização do povo em seus locais de trabalho, estudo e moradia. A segunda tarefa é federalizar essas lutas locais de uma forma progressiva, que vai do nível municipal ao nacional, passando pelo estadual e regional. Para isso acontecer, é preciso dar um salto do localismo para o federalismo.

Assim, a organização combativa e federalista do povo funcionará como impulsionadora, mantenedora e protetora das mobilizações de rua, evitando sua dispersão pela repressão estatal e seu cooptação pelo reformismo ou reacionarismo.

Contudo, construir vitórias para a causa do povo é um processo árduo que implica reerguer a força coletiva da classe trabalhadora, dos oprimidos e dos povos do Brasil num contexto de crise da auto-organização popular.

Os anarquistas encontram na prática do sindicalismo revolucionário a solução para este problema. Esta é a estratégia capaz de fazer com que a revolta não seja episódica e operada apenas por combativas, mas limitadas manifestações de rua. O sindicalismo revolucionário abre a possibilidade para que a revolta possa se tornar parte do cotidiano do povo e impulsionar a força coletiva de trabalhadores, estudantes, desempregados, moradores de favelas, cortiços  e periferias, das gentes das pequenas cidades do interior e dos assentamentos rurais, dos povos em aldeias indígenas, em reservas extrativistas e em quilombos de norte a sul, leste a oeste deste país.


[1] https://uniaoanarquista.wordpress.com/2013/07/07/o-levante-dos-marginalizados-analise-sociologica-dos-protestos-e-manifestacoes-populares-no-brasil/

[2] https://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/07/veja-em-quais-cidades-houve-reducao-da-tarifa-do-transporte-em-2013.html

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20 ANOS DE BAKUNINISMO! VIVA A UNIÃO POPULAR ANARQUISTA!

Com imenso prazer publicamos a edição comemorativa do jornal Causa do Povo de vinte anos da UNIPA! Foram vinte anos de organização e luta, de construção programática e impulsionando organismos autonomos da classe trabalhadora.

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